Pesquisadores, técnicos e ex-presidentes da FEE reuniram a imprensa nesta sexta-feira, 06, para alertar sobre os prejuízos com o decreto que determina o encerramento das funções da Fundação e denunciar as incongruências da contratação de uma empresa privada para a produção de três indicadores.

Iracema Castelo Branco (E), Roberto Rocha, Tomás Fiori e Breno Serafini

Iracema Castelo Branco (E), Roberto Rocha, Tomás Fiori e Breno Serafini

 

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O pesquisador e economista Tomás Fiori reiterou que os servidores da Fundação estão vivenciando um processo contínuo de assédio e obstrução do seu trabalho e que o decreto publicado pelo governo se resume a um “grito mais forte” para tentar fazer valer medidas irracionais e ineficazes. “Estamos questionando tecnicamente as alegações de que tais atos eram qualificados e racionais. Não são. O governo tenta pela força, pelo poder da caneta e do papel que tudo aceita, propalar uma ideia falsa e impossível. Jamais como técnicos e especialistas que somos fomos chamados, fomos consultados sobre a natureza do que fazemos ou fomos ouvidos sobre as possibilidades de melhorar as propostas”, pontuou Tomás. O economista comentou que o custo de R$3,3 milhões do contrato firmado com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas de São Paulo (Fipe) para produzir três indicadores evidentemente seria menor e com mais qualidade se fossem mantidas as atribuições da FEE. O economista da FEE Roberto Rocha, responsável até agora pela coordenação e produção do PIB, esclarece que o custo anual da FEE é de R$ 6 milhões com a produção de 25 indicadores. “O contrato com a Fipe prevê a produção de três indicadores: PIB, Idese e Análise do mercado e trabalho (algo que pretende substituir a Pesquisa de Emprego e Desemprego). Na FEE, isso custaria R$ 1milhão e 800. Ou seja, é um mau negócio para o estado”, adverte Roberto. Segundo os pesquisadores o contrato com a Fipe,  divulgado pelo governo, é ineficiente porque custa mais do que se fosse feito pelos pesquisadores da FEE, é ineficaz porque a relação comercial entre governo e empresa contratada gera dúvidas e conflito de interesses, além de haver falta de dados sigilosos do IBGE, cujo acesso só é conveniado com órgãos públicos, e falta de dados primários. E o projeto é perdulário, porque duplica o pagamento de dados já existentes.

 

iracemaDe acordo com a economista da FEE Iracema Castelo Branco, pesquisadora até o momento responsável pela pesquisa de Emprego e Desemprego, com menos de 1/3 do valor contratado com a Fipe seria possível manter a PED. “Foi uma decisão política do governo não demandar os valores retidos no Ministério do Trabalho para realizar a pesquisa. E é uma decisão política do governo abrir mão de uma pesquisa robusta, com dados primários valiosos e ininterrupta há 26 anos. Análise de mercado de trabalho  FEE também faz, mas isso não é complexo”, explica. Presente na coletiva, a ex-reitora e ex-presidente da FEE, profª Drª Wrana Panizi disse que precisava manifestar uma vez mais o seu espanto com o desmanche da instituição. “Nossa legitimidade é uma luta constante. É duro a gente se dar conta que o desmonte é feito com tanta facilidade e como dados essenciais são desvalorizados. A FEE foi o lugar onde eu mais aprendi”, enfatizou. Na mesma linha, o ex-presidente Adalmir Marchetti também destacou o ambiente singular de aprendizado e rigor metodológico. “Digo aos meus alunos que muito do que ensino só aprendi depois de entrar na FEE”, exaltou. Para o professor da UFRGS e ex-pesquisador da FEE Carlos Henrique Horn três palavras resumem sua percepção sobre o triste momento de encerramento da Fundação: discordância, racionalidade e esperança. O economista discorda que o governo comprove motivações econômicas para as medidas. “A crise fiscal passou? O governo está lidando com dinheiro a rodo? Temos R$ 3 milhões para produzir dados que já temos? Para fazer PIB com dados secundários, para entregar uma análise de mercado de trabalho que francamente pode ser feita com cinco estudantes do 3º semestre “, examinou. Horn disse é preciso ter racionalidade e esperança para entender que esse período obscuro e de desprezo pela ciência vai passar. “É preciso perseverar. Em qualquer momento essa estupidez acaba. Se a regra democrática for respeitada é provável que em janeiro do ano que vem aquela cambada esteja fora do Piratini e aí em um novo governo será necessário reconstruir. É necessário, portanto, que essa memória de conhecimento não seja perdida”, afirma.

 

WhatsApp Image 2018-04-06 at 13.41.20O deputado petista Tarcísio Zimmermann disse que estava representando não só a bancada do PT, mas também do PCdoB, PSOL e parte do PDT. Para o parlamentar é necessário enfrentar as ações trágicas do governo com controle, diálogo e debate e por isso pretende promover uma audiência pública na Assembleia Legislativa, levando os dados e os aspectos destacados pela FEE, para que a sociedade gaúcha esteja ciente do tamanho do retrocesso. “Não tem política pública que resista à improvisação. Precisamos resistir. Uma das tragédias da política é que muitas vezes decisões importantes são entregues a imbecis. E imbecis não escutam”, disse. O economista e servidor aposentado da FEE Adalberto Maia Neto foi enfático no encerramento da coletiva: precisamos chamar as coisas pelo nome. Esse contrato do governo é uma fraude, porque nada ali é verdadeiro. Não haverá produção de dados do PIB trimestral ou municipal porque a metodologia e estratégia de produção de estatísticas oficiais coordenadas pelo IBGE se fundam em dados e órgãos públicos. Sei que o IBGE não repassará dados sigilosos a fundação privada. Talvez o governo pretenda fazer o estudo com os servidores da FEE e só dar para a Fipe assinar. Se não for feito este ano não haverá como dar sequência ano que vem. Além disso o Idese utiliza dados do PIB em sua composição, ou seja também não será feito e a análise do mercado de trabalho, com dados secundários já foi explicado o que significa. Isso tudo que não será feito foi contratado sem licitação por notório saber. Ora, não há nem saber da FIPE sobre o PIB, quanto mais notório. A produção do PIB exige uma metodologia, um acúmulo, uma experiência. E quem tem isso é a FEE”, completou.

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